quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Resenha: Laicus - Porque ficção histórica nacional PODE e DEVE ser feita

Saudações, aprendizes! Iniciando os trabalhos de 2017 deixo com vocês a resenha de Laicus, do autor brasileiro J. M. Beraldo.





Título: Laicus – Pecados e Mentiras no Rio de Janeiro Colonial
Autor:  J. M. Beraldo
Editora: Nota Terapia
Nº de Páginas: 246

Sinopse: Após uma noite cujos próprios atos o atormentam a cada minuto do dia, Bernardo de Andrade larga a batina e parte para o Rio de Janeiro para cumprir sua última missão para sua rainha. É 1810, dois anos após a chegada da Família Real Portuguesa a antiga colônia do Brasil, foragidos da guerra contra Napoleão. Na colônia tornada capital do reino, Bernardo encontra uma rainha louca, um regente desinteressado, uma princesa traiçoeira e um mistério antigo que envolve o inacreditável. Forçado a aceitar sua nova residência nos trópicos, Bernardo se vê tendo de enfrentar o caldeirão de culturas e mitos das ruas do Rio de Janeiro, e verdades que homem algum deveria conhecer.

Resenha: É com esse clima obscuro que se apresenta Laicus, primeira incursão do autor no perigoso terreno da ficção histórica. Perigoso, sim, pois qualquer deslize pode fazer a trama se afastar demais do termo “histórico”, pendendo demais para a fantasia e frustrando o leitor.

Devo dizer que Laicus tem um pouco de cada um, ambos na medida certa. Nosso herói da vez é Bernardo de Andrade, um ex padre que chega ao Rio de Janeiro carregando um segredo, algo de que se envergonha e que diz respeito somente à rainha: Dona Maria I, a Pia.

Neste momento gostaria de salientar dois pontos que julgo importantes. Primeiro, J. M. Beraldo foi hábil em não nos revelar todos os segredos de Bernardo logo de cara, nos deixando com vontade de querer avançar na leitura para desvendar as facetas de seu personagem, que vão se revelando paralelamente à trama.
E segundo, a forma como os personagens históricos se mesclam à narrativa fictícia. Dona Maria não é a única, sendo que temos participações especiais de D. João VI e Carlota Joaquina, por exemplo. O autor foi inteligente nessas participações, fazendo suas interações com a trama de forma sutil e bem planejada, dando vida ao seu texto sem comprometer diretamente o discurso histórico.

E obviamente não poderia deixar de frisar que a cidade do Rio de Janeiro descrita no livro pode ser considerada uma personagem em si, tamanha a riqueza de detalhes com que é apresentada e trabalhada. Neste ponto percebemos a dimensão do trabalho de pesquisa que o autor teve.

Meu ponto favorito do livro foi o efeito que ele teve sobre mim, fazendo me interessar pelo cenário histórico da época. Mais de uma vez o livro me compeliu para a internet, para alguma pesquisa sobre lugares ou personagens. Sim, você leu direito, considero este um ponto positivo. A narrativa soa pouco didática, mas deixa no leitor aquela vontade de saber mais sobre o cenário.
Imaginem minha surpresa quando descobri que Paulo Fernandes Vianna realmente existiu...

Importante ainda frisar, a trama pende para o sobrenatural. Não considero essa informação spoiler, pois acredito que o leitor gostará de saber antes se o livro possui um enredo voltado ao sobrenatural ou mais “pé no chão”. De uma forma ou de outra, a trama me agradou bastante, principalmente da metade do livro para o fim.

E, se tivesse de apontar um defeito ao livro, seria o tom. Essa é uma questão pessoal, que varia muito de leitor para leitor. A meu ver, uma trama obscura que flerta com o sobrenatural, cheia de personagens decadentes numa cidade repleta de patifes poderia ser um pouco mais crua, mais brutal.
Não estou falando de brutalidade e crueldade desnecessárias, veja bem. Na trama temos a iminência de maldade, e como ela se espalha pelos corações dos homens, mas acredito que o autor nos poupou em suas descrições. Como já disse, é uma questão inteiramente pessoal. Tanto do autor com sua obra quanto da relação do leitor com a mesma.

Considerações Finais: Laicus – Pecados e Mentiras no Rio de Janeiro Colonial é um bom livro, que vale a pena ser lido pelos motivos citados acima. É a prova de que ficção histórica brasileira é algo que pode, sim, ser feito. E que mesmo com mais ficção do que história propriamente dita, o trabalho de pesquisa do autor deve ser reconhecido.


Altamente recomendado.

Esta resenha também está disponível no site do Programa Sintonia Cult, juntamente com muito conteúdo original. Não deixem de visitar!

2 comentários:

  1. curti,mas eu queria mais um pouco O Monstro do Papai, não sei aquela me hipnotizou enquanto eu lia,!!

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