quarta-feira, 18 de maio de 2016

Novo Projeto - A Jóia do Reino

Saudações, aprendizes! Hoje iniciamos um novo projeto aqui no blog. Diferente do anterior, este será um projeto bem menos pretensioso, com menos de dez capítulos no total e com um tom mais leve e descontraído. Boa leitura!

A Jóia do Reino - Capítulo I - Victorya


Imagem retirada do site wallpaperscraft.com

  Era um dia ensolarado, uma tarde maravilhosamente linda e agradável.
  No entanto, Vicky estava presa na biblioteca.
  Olhou para aquelas pilhas de livros com desânimo. Eram doze pilhas, cada qual mais alta do que a outra. e todas mais altas do que ela.

  -Termine de organizar estes volumes, Vicky. - Havia-lhe dito a bibliotecária, antes de sair. - Depois estará livre do castigo. E lembre-se: nada de magia.
  Essa última regra era o que caracterizava o castigo. Ou melhor, todos os castigos. Limpar o chão sem magia. Lavar centenas de panelas e pratos sem magia. E agora essa. Toda vez que Vicky pisava na bola, a proibiam de usar seus poderes.
  Como se todos os problemas da escola fossem culpa dela. Tudo bem que havia sido ela quem conjurou aquele elemental do fogo na semana passada, ou quando transformara aquele pequeno e fofo coelhinho num esmagador atroz na semana anterior. Ou ainda quando, ao ajudar nas cozinhas, fizera aparecer um pequeno kraken no panelão da sopa.
  Foi até a primeira pilha de livros e subiu numa cadeira para alcançar os volumes mais altos. O primeiro era o Bestiário de Alkalor vol III: Artrópodes Gigantes e Abominações Rastejantes", do arquimago Voltimar Alkalor.
  - Alkalor... - Falou devagar, passando a mão pela capa até encontrar a gravação que procurava. - Corredor 35, seção 76A. Muito longe. - E com isso jogou o volume por sobre o ombro, para guardá-lo depois, quando passasse pelo corredor 35.
  O bestiário de Arkalor vol III caiu com um ruído áspero, abrindo-se aleatoriamente. Vicky sequer deu-lhe a menor atenção. Se tivesse reparado nesse pequeno detalhe, teria visto a formiga atroz que saiu apressada de dentro das páginas.
  E não estava sozinha. Formigas atrozes começaram a brotar do livro, uma após a outra, até se espalharem pelo chão da biblioteca.
  Mas Vicky estava distraída, estudando o segundo volume que tinha em mãos. "Magia das Palavras: Puemas Imcantados i Runas Imvocadoras para Aspirantis a Iscritoris Arkanos", de Madame Roxanne, a Magnífica. Corredor 28, seção 1b.
  -Também longe. - E jogou outro pesado livro por cima dos ombros. Este caiu em cheio sobre uma das formigas. O poderoso inseto sacudiu-se para se livrar do livro, e imediatamente atacou-o, fazendo-o em pedaços. Mais duas formigas juntaram-se a ela. Vicky, sem perceber o que acontecia no chão, lamentava-se pelo trabalho que tinha por fazer: - Ah... que chato.
  Olhou com desânimo para o restante da pilha, e suspirou. Teria um árduo e cansativo trabalho, e perderia aquele dia tão ensolarado.
  Mas a bibliotecária não está aqui, pensou. Um pouco de mágica não poderia fazer mal a ninguém.
  Com um estalar de dedos, fez seu cajado aparecer magicamente em suas mãos. Uma bela peça de madeira finamente trabalhada, com a ponta em forma de uma garra segurando uma esfera lilás, cujo interior lembrava um céu repleto de estrelas.
  E, às suas costas, dezenas de formigas atrozes corriam pelo chão, devorando e destruindo tudo o que encontravam.
  -Deixe-me ver... - Começou Vicky, ainda sobre a cadeira, alheia ao exército de insetos monstruosos às suas costas. - Preciso de um encanto para transportar cada um destes livros até o seu lugar.
  Puxou as largas mangas de suas vestes até os cotovelos, cantarolando mentalmente a fórmula de seu encanto.
  -Já sei! - Exclamou, e começou a balançar seu cajado de um lado a outro. A esfera lilás na ponta começou a brilhar.
  "Livros de feitiço, livros de encanto; criem asas mágicas que os levem cada um ao seu canto".
  Pequenas asinhas começaram a surgir nos volumes nas pilhas. Lentamente, cada um deles levantou voo e encaminhou-se para seu devido lugar. Vicky continuava a executar seu encanto, concentrando sua magia através do cajado.
  Alguns alunos que estudavam nas mesas levantaram os olhos para a revoada de livros que voavam sobre suas cabeças. Alguns, admirados. Outros, receosos.
  Isso porque os do segundo grupo já conheciam Vicky bem demais.
  Mais perto do chão, longe da atenção da maga, algumas formigas subiam umas sobre as outras, formando uma espécie de escada. Com isso, uma delas foi capaz de subir na cadeira onde Vicky estava.
  -"Livros de feitiço, livros de encanto..." - No exato momento em que reforçava sua fórmula mágica, sentiu a violenta mordida em seu tornozelo. - Ai!
  Bateu o cajado na própria perna, derrubando o inseto no chão, espalhando fagulhas mágicas à sua volta.
  Foi então que percebeu: centenas de formigas vermelhas, do tamanho de sua mão, correndo e roendo por toda a biblioteca.
  -Ai, não... - Vicky sacudiu o cajado ao redor da cadeira, espalhando os insetos que tentavam subir-lhe pelas pernas.
  Muitos estudantes já estavam sobre as mesas, alguns conjurando feitiços para afastar as formigas. Outros simplesmente pisoteavam os insetos.
  -Ai, não, não, não... - Vicky pensou e pensou, mas não conseguia se decidir pelo que fazer. Enquanto isso, seu encantamento de voo enfraquecia, e muitos dos livros voadores despencavam por todos os lados. Outros, que se esforçavam para não cair, mas voavam próximos ao chão lenta e de forma dolorosa, eram puxados para baixo por formigas cada vez mais insanas.
  Então chegou a uma conclusão:
  -Já sei. Vou acabar com todas de uma só vez!
  Levantando o cajado e balançando-o em movimentos circulares, disse:
  -"Malditos insetos, pequenas pestes devastadoras, queimem todos em minhas chamas avassaladoras!".
  Labaredas e mais labaredas irromperam da ponta do seu cajado, que Vicky direcionou para os insetos. Mas as formigas atrozes tinham esse nome por alguma razão. Eram todas fortes, ferozes e insanas.
  E agora, graças à ideia genial de Vicky, eram também flamejantes.
  Pequenos monstrinhos em chamas corriam frenéticos pelo chão da biblioteca e, conforme morriam, incendiavam umas às outras. Estava funcionando, sim, embora a maga tenha se esquecido de algo muito importante...
  A curiosa combinação de fogo com dezenas de milhares de livros antigos.
  Em menos de um minuto, prateleiras inteiras estavam em chamas, para o total desespero de Vicky:
  - Droga, droga... - Sacudiu o cajado para cessar o feitiço de fogo. - Primeiro os insetos, agora o fogo... Contra fogo, é melhor eu usar...
  Levantou o cajado para executar outro encanto, mas foi atingida em cheio por uma imensa onda de água fria que a derrubou de vez da cadeira onde estava, e inundando boa parte da biblioteca.
  A água evaporou tão rápido quanto fora conjurada, depois de o fogo ter sido apagado. Encharcada, Vicky olhou em meio a todo aquele vapor.
  Viu a bibliotecária, parada junto a porta, com o próprio cajado levantado. Irradiava uma fraca luz esverdeada. Do rosto, uma expressão que era a exata mistura de incredulidade com raiva genuína.
  -Por todas as catástrofes! - Gritou a mulher, ao que Vicky suspeitou de que muitas daquelas rugas que via agora no rosto da mulher jamais desapareceriam. - Por todas as pragas e todas as maldições, Victorya, desta vez passou dos limites!
  -Olhe, eu... - Baixou a cabeça, envergonhada. - Aquelas formigas surgiram do nada e eu, bem, eu...
  -Silêncio! - Ao comando da mulher, Vicky não pôde mais abrir a boca, como se tivesse cola nos lábios. - Não quero mais ouvir explicações. Nem lamentos. E não quero mais você na minha biblioteca. Quero que suma da minha frente, e se tornar a pisar aqui, mando você para um dos treze mundos do terror.
  -Hmnhhmumpff! - Tentou resmungar, mas era impossível com a boca colada. - Hhmum humpp pff!
  -Chega! - A bibliotecária então a pegou pelo braço e a conduziu para fora. - Vá ver o reitor. Agora.
  E fechou a porta, deixando-a resmungando sozinha, ainda sem poder falar.
  Porque, se pudesse, diria:
  "Estou encrencada".
  "De novo".






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