sexta-feira, 11 de março de 2016

Discworld - Um ano do adeus ao mestre

Saudações, aprendizes! Neste sábado, 12 de março de 2016, faz um ano que o mundo perdeu uma de suas mentes mais brilhantes. Este post é, então, uma homenagem a um dos maiores mestres que a literatura fantástica já viu: Terry Prattchet, o autor de discworld.



"Imaginação, não a inteligência, é o que nos torna humanos."

                                             - sir Terry Prattchet 








Terence David John Pratchett, ou sir Terry Pratchett, foi um dos maiores nomes da literatura inglesa, tendo publicado mais de quarenta títulos. Sua série discworld, mundialmente conhecida e considerada sua obra prima, já foi traduzida em 36 idiomas.



Muito mais do que um grande escritor, Pratchett era um mestre no que fazia. Sua histórias, apesar de se passarem em um mundo fantasia, eram recheadas de fortes críticas sociais, muitas vezes encontrando nossos paralelos no incrível mundo do disco.

O disco. Um mundo plano que repousa nas costas de quatro elefantes, que por sua vez estão apoiados sobre as costas da Grande A'Tuin, a tartaruga cósmica...

E foi justamente neste mundo inusitado que ele nos presenteou com histórias interessantes e divertidas. A grande variedade dos assuntos abordados  na série discworld é fascinante. Temas do nosso mundo como cinema, religião, filosofia, jornalismo, política e até mesmo rock'n roll não foram deixados de lado. Há também paródias do Egito antigo, Grécia antiga, europa medieval e até da Austrália.

Tenho ainda que destacar seus personagens, todos perfeitamente bem construídos, afastados dos arquétipos forçados que encontramos na literatura fantástica por aí. Apenas alguns exemplos:

Rincewind por Paul Kidby em
 The Art os Discworld




Rincewind - Mago incompetente da Universidade Invisível, sendo
considerado por muitos estudantes como "a magia equivalente ao número zero". A explicação mais razoável para estar vivo é que, embora tenha nascido com um espírito de mago, tem o corpo de um corredor de longa distância. Passa a maior parte do tempo fugindo de diversos tipos de pessoas, que desejam matá-lo por diversos motivos. Também é conhecido por ser capaz de resolver pequenos problemas, transformado eles em grandes desastres.











Esmeralda Cera do Tempo/ Vovó Cera do Tempo - Uma das bruxas mais conhecidas e poderosas de todo o disco, Vovó Cera do Tempo faz parte do Coven de Lancre. Expert em cabecologia (a psicologia das bruxas), é também famosa por ser teimosa, orgulhosa e rabugenta. Dicilmente vovó usa magia, acreditando que ela estraga as coisas, preferindo uma abordagem mais prática.



Morte por Paul Kidby em
The Art of Discworld





Morte - Uma paródia de diversas outras personificações da morte, Morte é representado por um esqueleto vestindo um manto negro e carregando uma foice. Geralmente usado por Pratchett para explorar os problemas da existência humana, tornou-se um dos mais simpáticos personagens de toda a série. Suas falas nos livros eram marcadas pelo USO DE LETRAS MAIÚSCULAS. Foi o protagonista de cinco histórias, embora sempre apareça de vez em quando. Dos quarenta e um livros, ficou fora apenas de dois.









Sam Vimes - O "Clint Eastwood" de Ankh-Morpork, Samuel Vimes é o comandante da patrulha da maior, mais populosa e mais imunda das cidades. Possui um forte senso de justiça aliado ao seu grande amor pela cidade das cidades. Nas histórias em que aparece, vemos sua evolução de guarda bêbado a respeitado nobre.

Esses foram apenas alguns, mas a lista não para por aí. No disco, há toda a sorte de magos trambiqueiros, bruxas espertalhonas, políticos corruptos, deuses cabeça oca e por aí vai.

Arte da capa de Guardas! Guardas!

Pratchett foi o maior exemplo de escritor que escreve aquilo que quer PORQUE gosta. A cor da magia, o primeiro discworld, foi publicado em 1983, numa época em que ser autor de histórias fantásticas não era fácil. Se hoje o gênero fantasia é menosprezado, imaginem três décadas atrás. O público alvo para sua obra era virtualmente inexistente. Parodiando Tolkien e Shakespeare, quem esse tiozinho pensa que é?

Mas a brincadeira deu certo. Discworld se tornou um sucesso, e três anos depois o autor lançou A luz fantástica. Foi então que Pratchett resolveu se dedicar à escrita em tempo integral, porque, segundo ele, estava perdendo dinheiro na carreira de jornalista. De lá para cá, a série rendeu quarenta e um livros, com o último, The Shepherd's Crown, sendo publicado em agosto de 2015, cinco meses após a sua morte.

Todo autor de literatura fantástica deveria se espelhar em Pratchett, que era totalmente contra o menosprezo que existe em relação ao gênero. Segundo ele, a fantasia era o cerne de toda a literatura. Quando em entrevistas, se perguntado o porquê de escrever literatura fantástica, demonstrava sua irritação repondendo: pense você o porque de ter me perguntado isso. Ele escrevia sobre algo que gostava, para se divertir, e não para agradar editores ou certo público alvo.








"fantasia é uma bicicleta ergométrica para a mente. Ela pode não te levar a lugar algum, mas tonifica os músculos que podem. É claro, eu posso estar errado."






No final de 2007, foi diagnosticado com uma forma rara de Alzheimer. Embora seja uma das coisas mais tristes que possa acontecer a um escritor, Pratchett não desistiu. Continuou escrevendo, lutando contra a doença com todas as armas disponíveis. Lançou 14 livros depois disso, sem jamais se dar por vencido. Quando já não podia mais digitar, utilizava softwares de reconhecimento de voz ou ditava para o assistente. Perseguiu seus sonhos até o fim.

Emocionou a todos quando levantou a questão do suicídio assistido, sendo uma das mentes mais influentes do mundo a tratar um assunto tão polêmico com a seriedade necessária. Partia do pressuposto de que, quando não pudesse mais pensar por si próprio, sendo a doença irreversível, já estaria morto.

Em 2011 a BBC lançou o documentário Terry Pratchett: Choosing to die. O documentário rendeu críticas das mais variadas à emissora, além de um Emmy internacional em 2012.


"A maioria dos deuses joga dados, mas o Destino joga xadrez, e você não descobre até que seja tarde demais que ele estava jogando com duas rainhas ao mesmo tempo"


No dia 12 de março de 2015, o mundo se despediu deste gênio. Aos 66 anos, sir Terry Pratchett faleceu em casa, rodeado pela família e com seu gato ao lado da cama, segundo o comunicado oficial de sua editora, a Penguim Random House, que lamentou a perda uma das mentes mais brilhantes do mundo.

Em sua conta oficial no Twitter, sua filha Rihanna deixou a seguinte mensagem:

"-FINALMENTE, SIR TERRY, CAMINHAREMOS JUNTOS.
Terry pegou a mão de Morte e segui-o através da porta para o deserto negro sob a noite sem fim.
Fim."



Ele tinha o dom de nos fazer rir e refletir ao mesmo tempo. Ensinou que não devemos nos levar tão a sério, mas fazer aquilo de que gostamos sem se importar com os outros, e aproveitar a vida da melhor maneira que pudermos.

Faça um favor a si mesmo e leia alguma obra de Terry Pratchett. Você não vai se arrepender.

"Ninguém está realmente morto até que as ondas que causou no mundo morram também."
                                                                      -Trecho de O Senhor da Foice




4 comentários:

  1. Adoro Discworld e eu fiquei muito triste ano passado quando soube :(
    Vendo o lado positivo, muita gente passou a conhecer a maravilhosa obra do autor por conta da repercussão...
    Bela postagem!
    Abraços

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    Respostas
    1. Obrigado pela leitura. É realmente um autor que fará muita falta, até porque a coisa tá meio feia por aí...
      Alegra-me também o fato de os livros estarem sendo lançados de novo no Brasil.
      Se estiver interessado, fiz também uma resenha de Pequenos Deuses, eu ia linkar na postagem, mas acabei esquecendo:
      http://baudoarquimago.blogspot.com.br/2016/02/resenha-pequenos-deuses.html

      Obrigado mais uma vez pela atenção,
      Forte abraço

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  2. Apesar de conhecer o autor já a algum tempo, ainda não tive oportunidade de ler nada sobre ele. Infelizmente. Mas depois de ler o texto me motivei a buscar algo.

    Sei que ele contribuiu pro Neil Gaiman. Escreveram juntos um livro.

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  3. Olá Guilherme,
    O livro que o Terry escreveu com o Neil Gaiman é o Belas Maldições. É um ótimo livro, e a boa notícia é que pode ser facilmente encontrado pela internet.
    Quanto ao discworld, os livros lançados pela conrad infelizmente são muito difíceis de serem encontrados. Já a Bertrand Brasil tem dois livros publicados recentemente, com previsão de mais dois ainda para este ano.

    Abraço

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