quarta-feira, 30 de março de 2016

A Queda de Arcádia - Capítulo 9

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9 . O torneio

Há dias estava preocupado com Jeren. A sobrinha mal comera desde que partiram de Lago Mardul. Durante a viagem manteve-se isolada dentro da carruagem, e recusou até mesmo a companhia do filho, Luke. Não que o jovem tivesse insistido em acompanhá-la. Ocupara-se em fazer o que todo rapaz de quatorze anos faria em seu lugar: correr atrás do pai.
Uma forte presença paterna lhe faz tanta falta. Sempre o fez.
O príncipe negro de Arcádia não era um exemplo de pai. Trebane suspeitava de que Lucian sequer nutrisse algum sentimento pelo filho, não mais do que por qualquer um.



Luke, por outro lado, era um rapaz cheio de vida. Tinha um bom coração, além de uma aptidão natural para a cavalaria. Mas era ingênuo, a tal ponto de considerar o pai um herói.
E um herói era tudo o que Lucian não era. Não aprovava as longas ausências do príncipe negro, mesmo que estivesse em campanha. Entristecia-lhe a infelicidade da sobrinha. Ela merece coisa melhor. Ela não o ama, e ele não a quer. Que casamento é este? Um marido que desconsidera a existência da esposa e negligencia o próprio filho. Como um homem assim pode chamar a si próprio de príncipe?
Temeu quando Jeren propusera o encontro com Rastler, dias atrás, mas mesmo assim decidiu arriscar. Queria confiar no seu velho escudeiro, mas não sabia o quanto ele mudara em seu exílio. Afinal, quinze anos era tempo demais. E as histórias que ouvira não ajudavam. A fama dos bastardos sangrentos já havia alcançado Arcádia. Nas longínquas e selvagens terras do leste, Rastler montara uma força de elite capaz de realizar qualquer missão ao qual fosse paga. Traição, extorsão, assassinato. Tudo isso era comum entre pequenas tropas mercenárias. Não conseguia imaginar como aquele garoto bom e leal viria a se tornar um temido caça prêmios. No começo sentiu um pouco de vergonha. Afinal, treinara um cavaleiro.
Mas então soube da investida do imperador Caius de Iskarish à Vigia do Leste. Se a tropa de Rastler não tivesse sabotado o ataque, eram grandes as chances de o príncipe Ricard perecer em batalha. Rei Teobald choraria pelo filho mais velho, princesa Lyrien choraria pelo marido, e o povo de Arcádia entraria em luto. Até mesmo Sir Trebane temera pelo príncipe. Aquele sim é um príncipe ao qual vale a pena dobrar o joelho. Um homem de princípios, bom, justo e leal. Fiel a sua esposa e ao seu país. Um verdadeiro cavaleiro.
Embora tenha sido traição e quebra de contrato, Rastler garantiu a vitória para o primo. E isso era inegável. Depois da batalha, Ricard o enviou para as montanhas para reunir os clãs numa investida a fortaleza de Granlago, em apoio ao príncipe negro, em campanha no sul. Granlago foi tomada e saqueada, e Rastler marchou até a Ilhota dos Ventos, onde convenceu os Granrios a dobrar o joelho. Audacioso. Essa sempre fora uma das principais qualidades de Rastler.
Foi difícil, mas convenceu a sobrinha de que veria Rastler primeiro, para certificar-se de que não se tornara perigoso. Para seu alívio geral, o rapaz se mostrara um homem maduro e com a cabeça no lugar. No entanto, o reencontro com sua sobrinha foi um fracasso dos piores. Embora visse a tristeza de Jeren, Sir Trebane era incapaz de condenar Rastler por qualquer coisa. É lógico que preferia vê-la feliz ao lado do homem que ama, ao invés de seu príncipe do coração congelado. Mas vale lembrar que ambos os homens eram amigos de infância. Logo, como poderia Rastler ir contra a vontade do rei e tomar a esposa do príncipe?
Não tornara a falar com Rastler, embora quisesse muito. Cavalgou por dias ao lado da carruagem de Jeren, pois guardá-la era a sua obrigação. Guardou a porta de seu quarto em Pedra das Estrelas dia e noite, e não recebera uma única palavra de sua amada sobrinha, trancada e sozinha durante todo o primeiro dia das festividades. Uma única criada entrava e saía do quarto, e nunca permanecia pouco mais do que alguns minutos. Luke passou o dia com os filhos de Ricard, enquanto Lucian mantinha-se rodeado pelos seus cavaleiros negros. E foi assim até o pôr do sol. Quando um criado veio informar de que o banquete logo seria servido no salão principal, foi que Sir Trebane decidiu entrar no aposento para convencer a sobrinha a deixar a cama.
O quarto era uma grande sala no topo da torre oeste do castelo, nos antigos aposentos de Lucian na infância. Embora nenhum dos filhos do rei tenha sido criado em Pedra das Estrelas, todos possuíam seus próprios quartos para quando visitassem a capital. As grandes janelas da parede oeste possibilitariam a entrada do sol poente, mas as cortinas abaixadas lançavam o quarto numa imensa escuridão. Jeren estava na cama, completamente coberta.
- Minha senhora. - Não obteve resposta. Não pode estar dormindo. Pigarreou. Percebeu um movimento sob os lençóis, então continuou: - Minha Senhora, o banquete do rei será servido em breve, e é indelicado que não esteja presente.
- Não estou me sentindo bem. - Sua voz está diferente. Estará doente?
- Quer que eu chame o curandeiro real para vê-la?
- Não. – Respondeu apressada. - Só preciso descansar. Creio que uma boa noite de sono me fará melhorar.
Não insistiu. Mesmo que fosse muito próximo de sua sobrinha, o tempo ensinara-lhe que muitas vezes o que ela precisava era da solidão. Afinal, ninguém poderia preencher o vazio que Rastler lhe deixara. De uns tempos para cá, apenas o filho lhe alegrava. Pelo menos isso. Ela odeia Lucian, mas ama o filho dele. Acima de tudo, Jeren era um boa mãe.
 Ao amanhecer, três criadas entraram no quarto para cuidar de seu banho. Pensou que encontraria-a revigorada pela manhã, mas não poderia estar mais enganado. Embora fosse muito bonita, estava com grossas olheiras, como se não tivesse dormido a noite toda.
- Está melhor?
- Sim. - Bocejou longamente. Estranho. O banho matinal deveria ter lhe tirado o sono. Está parecendo que... Jeren não dormiu. Mas como? Vira-a na cama noite passada, sentia-se mal. - Dormir nunca é demais. Pelo menos estou melhor.
- O que estava sentindo?
- Um pouco de dor cabeça e enjoo. - Sua voz havia recuperado o tom normal. - Espero que não tomem como ofensa eu não ter comparecido ao banquete.
- Mandei avisar que estava indisposta.
- Obrigado, tio.
Luke estava no salão principal, na companhia dos primos. Tantos. Três eram os filhos de Ricard. Os outros eram primos mais distantes, netos da senhora Talyrien, a irmã mais nova do rei. Apressou-se e abraçou a mãe, com todo o vigor que um garoto de catorze anos poderia dispor. O primogênito de Ricard, Theovan, deu um passo a frente e cumprimentou:
- Bom dia, minha senhora. - Curvou-se e beijou a mão de Jeren. - E Sir Trebane, é sempre uma honra encontrá-lo.
- Príncipe Theovan. - Sir Trebane admirava a educação de Theovan. Quinze anos, e parece um senhor. Com a idade dele eu só queria saber de bater no meu irmão com espadas de madeira. - A honra é toda minha.
- Sir Trebane! - Agora era o próprio Ricard quem se dirigia ao velho cavaleiro. - Senhora Jeren, vejo que se recuperou. Lyrien gostaria que se juntasse a ela para o desjejum. Ela rezou pela sua melhora durante a noite.
- Obrigado, meu príncipe. - Jeren esboçou um meio sorriso. - Se me dão licença, então. - Fez uma curta reverência e dirigiu-se a mesa onde as senhoras e senhores do reino quebravam o jejum.
- Acompanha-me até a mesa. Sir?
- Claro, alteza.
- Não precisamos deste exagero. Um cavaleiro como o senhor pode me chamar de Ricard. - Lucian estava presente, mas mal notou sua chegada, e muito menos a da esposa. Sentou-se ao lado de Ricard, enquanto Jeren conversava com Lyrien, a esposa do príncipe. - Assistirá a justa mais tarde?
- Não a perderei por nada.
- É uma pena que o senhor não compita mais. - O príncipe suspirou. - Seria um adversário e tanto.
- Lisonjeia-me, meu príncipe. Mas deixo a glória aos jovens.
- E quanto ao corpo a corpo? - Claro. A disputa do último dia. Os torneios em Arcádia eram famosos justamente por conta deste evento. Qualquer nobre podia participar, e formar sua equipe com vinte guerreiros. As equipes lutavam entre si, todas ao mesmo tempo com espadas embotadas, e o último time que restasse vencia.
- Obrigado pelo convite, mas receio ter de recusar. - Doía recusar isto ao futuro rei. - Não sei o que é uma boa briga já há alguns anos. Eu mais o atrapalharia.
- É uma pena, senhor. - Ricard sorriu. - Este ano estará difícil. Lucian entrará com uma equipe forte, e Tharren Raardan formou um time com seus mais ferozes gritadores. Temo que não possa derrotar ambos se decidirem unir as forças.
Olhou de relance para Lucian, que bebia de uma taça de vinho, rodeado pelos seus favoritos. Achava improvável que o príncipe negro unisse suas forças aos bárbaros Raardan, mas havia muito a se considerar. Para começar, em dois dias provavelmente Ricard seria rei. E que maneira melhor de humilhar o próprio irmão derrotando-o na frente de todos.
- Talvez sir Zemerick? - Perguntou, ao notar a ausência do cavaleiro imaculado.
- Não participará. - Baixou a voz. - A verdade é que meu primo está cada vez mais distante. A esta hora da manhã deve estar no templo, rezando. Os deuses são agora a sua vida.
Sir Trebane sabia que Ricard também era religioso, mas de uma forma semelhante a seu pai. Já Zemerick fora criado no Alto Templo em Pedras d'Água, e desde muito cedo moldado para ser um homem santo. E o aumento recente das forças militares da igreja era algo que não se podia ignorar.
- Talvez mesmo minha única esperança esteja em Rastler. - O príncipe pareceu pensativo. - Conhece-o melhor do que eu, Sir. Acha que ele me apoiaria no corpo a corpo amanhã?
- Não saberia dizer, alteza.
Ricard sorriu.
- Meu velho cavaleiro, por que é tão sincero.  Apenas diga que Rastler me dará seu apoio.
Riram. Este era um dos motivos pelo qual Sir Trebane admirava o príncipe Ricard. Das poucas vezes em que se encontraram, o herdeiro do trono fora amigável em todas. O carisma de Ricard era tamanho que ele tratava a todos como grandes amigos.
Conversaram durante todo o desjejum. Percebeu que o sono de Jeren relutava em ir embora. Vira-a bocejar uma dezena de vezes. Alguém que dormiu a noite toda não deveria estar com tanto sono.
Então percebeu. As criadas que iam e vinham. Foi fácil trocar de lugar com uma qualquer. Uma pequena bolsa de ouro compraria isso. Indisposta, sob os lençóis. A voz diferente.
Jeren não dormiu. Passou a noite fora.
Olhava-a de relance, enquanto conversava com o príncipe. Jeren percebeu os olhares, mas relutava em encará-lo. Conhecia a sobrinha bem demais. Teria ela fugido para encontrar-se com Rastler? Não perguntaria isso a ela, pois sabia que ela negaria. Era natural que, para uma coisa dessas, ela iria querer privacidade. Afinal, muitas vezes o tio era não mais do que uma sombra. Jeren, você não é mais criança. E se tivesse acontecido lhe algo? Com certeza o cavaleiro seria responsabilizado. Podia ver seu irmão dizendo: Sua responsabilidade era protegê-la, nada mais do que isso. Falhou, irmão. De novo.
Mas seu irmão estava morto, e isso fora há muitos anos. Não haveria mais como falhar para com ele.
Quando Theovan o Implacável quebrou as defesas de Lago Mardul e adentrou a cidade com treze mil homens, toda a culpa recaiu sobre Trebane. Lorde Theovan ofereceu bons termos, é verdade, mas Adalbert Mardul não ficou nada contente em colocar a coroa de lado e dobrar o joelho ao Rei de Arcádia. A pequena Jeren foi tomada como garantia da vassalagem, e seria criada em Rochaforte. O velho cavaleiro ainda lembrava-se das palavras do irmão: 
Perdeu a guerra, Trebane. Agora nos tomaram minha amada filha. A culpa é toda sua, irmão.
E desde então se tornou o escudo juramentado de Jeren. Viu-a crescer em Rochaforte e ser educada como uma dama, enquanto seu irmão amaldiçoava a tudo e a todos por ter perdido a coroa. Não demorou muito para que jogasse a vida fora, marchando inutilmente com não mais do que duzentos homens até os portões de Pedra das Estrelas, exigindo a liberdade de Jeren e a restituição da coroa de Lago Mardul.
Quando se deitava para dormir, sir Trebane dizia a si mesmo que o que foi feito naquele dia havia sido pelo bem de sua amada sobrinha. Afinal, Jeren era uma refém, além de uma inocente e doce criança.
Mas toda a alegria daquele salão o despertou de sua melancolia. Jeren agora era uma mulher, com um filho crescido e um amor perdido, e tudo o que Trebane mais desejava era que fosse feliz.

Após o desjejum dirigiram-se para a arena onde as justas seriam disputadas. A multidão enlouquecida gritava pelos cavaleiros. A nobreza ocupava os lugares mais altos do estrado, enquanto que a turba amontoava-se ao redor da pista. Jeren sentou-se ao lado da princesa Lyrien.
- Sir Trebane, pensei que fosse participar. - Falou-lhe a adorável princesa. Assim como seu marido e filho, Lyrien era um exemplo de educação. Afinal, logo seria rainha.
- Como disse ao seu marido mais cedo, alteza, deixo essa honra aos jovens. - O barulho era tanto que o cavaleiro quase tinha de gritar. Olhou de relance para sua sobrinha, que parecia um pouco melhor. - Além disso, meu lugar é ao lado de Jeren.
- Tenho certeza de que ela estaria protegida aqui, sir. - Riu-se divertidamente. - Acha que meu marido ganha essa?
- É difícil dizer. Por mais habilidoso que seja o cavaleiro, cada embate pode trazer alguma surpresa. E este ano há tantos competidores.
- Ricard venceu ano passado. - Falou a princesa. - Mas o número de participantes era bem menor. Príncipe Lucian não estava presente. Acho que ele seja o mais habilidoso dos cavaleiros.
- Ele teve um bom mestre. - Completou Jeren, elogiando o tio.
- O melhor mestre, se me permite dizer. - Disse uma voz conhecida atrás de sir Trebane.
- Godrick! - Exclamou Jeren, virando-se para olhar o amigo recém chegado. Godrick fora um de seus escudeiros, juntamente com Rastler e Lucian. Agora o jovem havia se torndado o senhor de Rochaforte. Tinha trinta e dois anos, três filhos e a maior fortaleza de Arcádia para governar.
- Senhoras. - Cumprimentou as damas primeiro. Uma grossa cabeleira escura caía-lhe aos ombros, e uma igualmente grossa barba roubava-lhe a juventude. Diferente, pensou sir Trebane. Um verdadeiro senhor agora. Em nada parecia-se com o rapaz franzino que treinara em Rochaforte.
- Estava começando a pensar que não fosse vê-lo. - E não iria. O pai de Godrick era Alto Conselheiro do Rei, e isso por si só já seria o suficiente para representar Rochaforte na coroação de Ricard. - Alegra-me ter mudado de idéia.
- Alegra-me vê-los também. - Godrick sempre fora muito polido e regrado. E transparente também. Era óbvio o motivo que o levou a Pedra das Estrelas: reencontrar com seu melhor amigo, Rastler.
- Sente-se comigo, Godrick! - Jeren o pegou pelo braço e ambos sentaram-se. Enquanto os dois ocupavam-se na conversa, o arauto moveu-se para o centro da arena para anunciar os primeiros competidores.
Normalmente os de menor renome eram os primeiros a competir,e desta vez não foi diferente. Sir Trebane sabia pouco e menos ainda sobre as dez primeiras duplas. Percebeu alguns jovens com potencial, mas nada muito fora do comum. Lucian foi jovem fora do comum, não pôde deixar de pensar. Godrik e Rastler também. Apesar de tudo o que acontecera nos últimos anos, Sir Trebane orgulhava-se das habilidades de seus rapazes.
Somente na décima primeira disputa foi que um membro da alta nobreza foi anunciado para competir: sir Dereon de Sigran, o mais novo dos filhos de Lorde Sigran, o mestre dos navios de Arcádia. O jovem cavaleiro fazia parte das tropas negras de Lucian. O arauto também anunciou seu adversário, um escudeiro chamado Leo. Um rapaz franzino com não mais do que dezesseis anos, trajando uma armadura que claramente não era para o seu tamanho.
- Leo? - Jeren poderou por um momento. - Esse não é o...
- Ele mesmo. - Respondeu Godrick, de imediato. Então Sir Trebane se lembrou. Pequeno Leo, era como o chamavam. Leo era o filho bastardo de Godrick, fruto de uma aventura vivida pelo não tão regrado assim herdeiro de Rochaforte na época. – Fará dezessete anos no próximo mês.
- É um garoto magro, muito mais do que você na juventude. Não deveria deixá-lo competir. - O velho cavaleiro repreendeu o senhor da rocha. - Está tentando matá-lo?
- Ele é muito melhor do que eu era na idade dele. E ele teria vindo com ou sem a minha permissão, acredite.
Sir Trebane não conseguiria aprovar aquilo. Teria Godrick se tornado tão irresponsável?
Os dois competidores cruzaram-se pela primeira vez. Cada um quebrou uma lança. Com um pouco de sorte, isso é possível. Mas um garoto de dezesseis anos não consegue manter o ritmo após levar um golpe desses. Ele será massacrado.
O segundo embate revelou-se uma surpresa. Leo acertou em cheio o elmo do oponente, sem quebrar a lança e saindo ileso, o que vale dois pontos. Sir Dereon tonteou e quase caiu do cavalo, mas manteve-se firme.
- Como isso pode ser possível? - Sir Trebane estava atônito. - Godrick, isso não pode ser sorte.
- Este torneio representa mais para ele do que nós podemos imaginar. Como bastardo, ele espera que o rei o permita usar meu sobrenome caso vença a competição.
Para vencer, Sir Dereon precisava derrubar Leo do cavalo, o que mostrou ser incapaz de fazer. Ambos quebraram as lanças novamente, o que deu a vitória ao bastardo, para o delírio da turba e o espanto do velho cavaleiro.
A próxima disputa seria entre Sir Droy Sigran, irmão mais velho de Sir Dereon, contra um cavaleiro qualquer das terras do rio. Vitória de Sir Droy no segundo embate, derrubando o oponente do cavalo.
E as disputas prosseguiam. Tanto cavaleiros negros de Lucian quanto da armada de Ricard tornavam-se mais comuns. Cavaleiros da igreja também participavam, mas em menor número. Sir Victor, o irmão de Rastler, derrotou um templário no terceiro embate.
Lorde Leonard Mardul seria o próximo, contra Sir Darl, um dos mercenários de Rastler. Mais um daqueles de conduta duvidosa. Era normal um cavaleiro receber o título em campo de batalha, e muitos mercenários aproveitavam para se auto proclamarem como tal. Sir Trebane duvidada de que Rastler tivesse mais do que dois ou três verdadeiros cavaleiros, em seu grupo de vinte.
Ele próprio não o era.
Lorde Leonard era imponente em sua armadura negra, enquanto seu oponente era um velho esfarrapado.
- Rastler e Leonard não se acertam, e nos últimos meses os bastardos sangrentos estiveram em campanha com as tropas negras. – Começou sir Trebane, que sabia da dificuldade do sobrinho em manter a língua dentro da boca.
- Nunca ouvi falar desse sir Darl. – Ouviu Godrick dizer. – Sir?
- É um dos mercenários de Rastler. – Olhou para a sobrinha. – Seu irmão não deveria competir hoje. Nada de bom deve sair daí.
Dito e feito. Depois de um primeiro embate equilibrado, o velho desferiu uma investida violenta, derrubando o adversário juntamente com o cavalo. Leonard teve de ser socorrido, pois o animal caíra sobre sua perna direita. Esse tipo de ocorrência muitas vezes colocava um fim à carreira de um cavaleiro.
Sir Trebane ficou atônito. Poucas vezes em sua vida vira um golpe de lança de torneio derrubar cavalo e cavaleiro. Aquilo não foi um golpe sujo. Foi perícia.
Reparou que Jeren sequer abalou-se com o que acontecera ao irmão. Mas isso não era novidade para ele. Sabia que a sobrinha sentia ciúmes da relação de Lucian com Leonard.
- É um justador feroz. - Continuou o senhor da rocha. - Conhecendo Rastler, ele deve ter montado um grupo perigoso.
- Não duvido da força da tropa, mas não passam de fanfarrões. - Sir Trebane censurava os bastardos sangrentos. É loucura. Mercenários são sempre inconstantes e perigosos.
- Talvez tenha razão, Sir. Mas vale lembrar que Rastler salvou o meu Ricard. - Princesa Lyrien se manifestou em defesa dos bastardos. - Se não fosse por esses mercenários, eu seria viúva agora.
E os jogos continuaram. Depois de incontáveis lanças quebradas e cavaleiros derrubados, as disputas mais esperadas da primeira rodada estavam para começar:
- Damas e cavalheiros! - Bradou o arauto real. - No penúltimo combate da primeira rodada, tenho a honra de apresentar Lucian, o Príncipe Negro de Arcádia.
A multidão gritou e vibrou. O Arauto continuou:
- Do outro lado da Arena, tenho a honra de apresentar Lorde Jan Granrios, Senhor da Margem de Sangue, e o mais novo dos filhos de Lorde Anton Granrios.
O cavaleiro das terras do rio moveu-se para seu lugar, em sua armadura negra das tropas de Lucian. Já segurava sua lança e esperava pelo adversário.
Passados alguns instantes, e nem sinal do príncipe.
E, enquanto aguardavam, Sir Trebane e Godrick entreolharam-se, pensativos. Isso porque já tinham uma ideia entre quem seria a próxima e última disputa da primeira rodada.




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