Saudações, aprendizes! Neste post, mais um capítulo do projeto A Queda de Arcádia.
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6. O rei e o bastardo
- Rastler, por favor, fique. - Falou o
tio em seu tom fraco e cansado, enquanto dispensava os senhores presentes na
sala do trono, fossem eles grandes ou pequenos.
Esperava por
algo assim. Sequer por um minuto acreditou que o Rei deixaria seu retorno
passar despercebido. Depois do desastre que fora o reencontro com Jeren, ao
menos era bom rever sua família. Fora testemunha dos juramentos dos senhores do
rio, assim como os outros senhores de Rasíris que também estavam presentes
perante o Trono da Estrela Cadente. Um a um, todos se retiraram. O príncipe
negro foi o primeiro a sair, seguido pelos seus generais e capitães, todos
representantes de importantes casas em Arcádia. Lucian sequer trocou meia
palavra com seu irmão. O herdeiro do trono tinha seu próprio séquito, e entre
eles encontrava-se o irmão de Rastler, Victor. Sir Victor, e é bom que eu me
acostume com isso. Nos quinze anos em que Rastler esteve nas terras do além
leste, o pequeno Victor cresceu e se tornou um honrado cavaleiro. Haviam se
encontrado brevemente após a batalha da Vigia do Leste, mas na ocasião o
retorno de Rastler era demasiado recente para que recebesse a devida confiança
dos Arcadianos.
Rastler também não pôde deixar de notar que tinha muitos primos. Vários deles eram cavaleiros agora. Darius agora fazia parte da Ordem, e servia sob sir Zemerick. Ambos eram filhos de sua tia Taliryen, a voz por trás da igreja. Já os gêmeos Christopher e Ronald, de seu já falecido tio Tames, lutavam na armada de Ricard.
O conselho do
Rei também deixou a sala do trono, exceto por Lorde Theovan.
- Theovan,
pode se retirar também. Não há perigo aqui.
- Eu insisto,
Vossa Majestade. - Sua voz era clara e forte. O que faltava de saúde ao rei,
sobrava ao Lorde. Theovan de Rasíris chegaria aos cinquenta em breve, e forte
como um touro, sempre trajando armadura e trazendo uma espada longa às costas.
- Ora,
querido irmão. - Rei Teobald estava fraco demais. Muito mais do que Rastler
sequer imaginara. - É meu melhor protetor e amigo. Mas o mais teimoso de todos.
Rastler não será capaz de fazer-me nenhum mal. Duvido que você acredite nisto.
Não era sábio
discutir com o rei, então o lorde não teve outra escolha a não ser sair. Mas
quando o fez lançou a Rastler um olhar fulminante, daqueles que descem pela
espinha cortando todas as terminações nervosas. Theovan, o Implacável.
Senhor da Estrela Caída e Primeiro General de Arcádia. Comandante da Guarda do
Rei.
E meu pai.
Quando
finalmente estavam sozinhos, O rei o chamou:
- Rastler,
meu querido sobrinho. Chegue mais perto e abrace este velho saco de ossos.
Fez o que lhe
foi solicitado, emocionado. Tio, olhe só para você. Abraçou o velho com
receio de quebrar-lhe algum osso.
- Empurre-me
até os jardins, por favor. - E Rastler pôs-se a empurrar a cadeira de rodas. O
tio continuou: - Alegra-me e muito saber que tenha voltado. Para ficar, espero.
- Acertou. -
Devia uma explicação ao tio, e sabia disto. - Cansei da vida de mercenário.
Arcádia é o meu lar.
- Não sabe
como é bom ouvir isto. - Deu-lhe um sorriso doloroso. - Conte-me tudo, Rastler.
Quero saber todos os detalhes da sua aventura no leste.
- Não há
muito o que contar, tio. Acredite em mim.
- Não acho
que seja bem assim. Um escudeiro rebelde abandona tudo o que tem e foge. Quinze
anos depois retorna à frente de um exército próprio. Não é algo que o rei de
Arcádia deva ignorar.
- Desculpe
desapontá-lo, tio, mas não tenho exército algum. Trata-se de uma pequena tropa,
com não mais de trezentos homens.
- Os
bastardos sangrentos, eu sei. Meus informantes no leste têm muito a dizer sobre
essa sua tropa.
- Com todo o
respeito, senhor. - Era difícil de acreditar. - Esteve me espionando?
- Não seja
tão ingênuo, meu querido sobrinho. Posso estar morrendo nesta cadeira, mas
tenho olhos e ouvidos por todo o continente, à exceção é claro do povo das
terras da noite. – O tio esforçava-se para falar. - Ouvi muito sobre os feitos
de sua companhia, e confesso que me decepcionei quando soube do seu contrato
com o imperador de Iskarish.
- Perdoe-me
por isso, tio. - Sentiu um pouco de vergonha. - Aquele contrato era a minha
passagem de volta à Arcádia.
- Agora
entendo. E agradeço-lhe do fundo de meu coração. Ricard poderia estar morto a
essa altura.
-
Engraçado... - Rastler deu um breve sorriso. - Pensei que diria algo sobre
valor e honra.
- Não me
entenda mal, não houve honra alguma no que fez. Mas, falando-lhe como o rei que
sou, devo dizer-lhe que a honra não vence todas as batalhas, não importa o que
os mais valorosos cavaleiros digam. - O tio lançou-lhe um olhar melancólico: -
Ricard me informou que dois dos filhos do Imperador pereceram no seu assalto.
- Os dois
mais velhos. O primogênito era o general. O segundo era comandante da
cavalaria. Havia mais um, o quarto ou quinto filho, mas este escapou.
- Lembro como
se fosse ontem, quando o imperador Caius enviou-me a cabeça de meu pai dentro
de um saco. - Sua voz agora estava levemente trêmula. - Era um bom homem, mas
um rei fraco. Jurei pelo meu sangue real que o faria pagar, que unificaria todo
o continente sob minha bandeira.
Fez uma pausa,
na qual Rastler pode ver toda a sua dor.
- A morte de
seus filhos não teve o gosto que eu imaginava. Tudo o que consigo sentir é pena
dele.
- Desculpe,
tio. - Rastler estava confuso. - Sente pena do homem que matou seu pai?
- Sim. Nenhum
pai deve viver mais que os filhos. Os novos devem sepultar os velhos, é assim
que os deuses nos ensinaram. Até mesmo seu pai é capaz de compreender isto. Não
acha que já é tempo de vocês acertarem as diferenças?
Aquilo o
pegara de surpresa.
- Meu pai me
deserdou. Há quem diga que não sou digno do nome que carrego.
- Bobagem.
Seu nome é Rastler de Rasíris, sempre foi e sempre será. A herança de seu pai
pertence a Victor agora, mas você sempre será o filho mais velho.
- Mas...
- Não
discuta, Rastler. A doença levou-me tudo o que eu tinha, a não ser a minha
coroa e a minha inteligência. Olho para o seu pai todos os dias nos últimos
quinze anos, e vejo que a cada dia seu olhar tem menos brilho. Ele sempre
sentiu sua falta, mas é teimoso demais para admitir.
- Também
senti falta dele, todos os dias em que estive fora. - E de Jeren. E de
Lucian, Godrick, Sir Trebane, Lorde Laurent e muitos outros. - Por isso voltei.
E por isso quero ficar.
- Ouça com
atenção, querido sobrinho. Uma família sem afeto se desfará em pedaços como uma
espada mal temperada. Já uma família unida resistirá por incontáveis batalhas.
Pai, mãe, irmãos e irmãs foram feitos para a paz. Guardemos as guerras para os
inimigos além de nossas fronteiras. Ouça meu conselho.
- Guardarei
estas palavras, tio. Obrigado.
- Não. Quem
deve agradecer sou eu. Obrigado por escutar um velho pobre coitado.
Rastler se
emocionou. Empurrava o tio pelos jardins do castelo. Está péssimo. Quinze
anos atrás ele ainda caminhava. Ainda tinha cor nos cabelos. Os deuses são
mesmo tiranos cruéis. A febre rubra tirara-lhe sua amada rainha, o filho mais
jovem e a saúde.
A febre rubra
tratava-se de uma praga que assolara Arcádia doze anos atrás. Magos eram
permitidos no reino, e possuíam um grande laboratório na costa do mar, a meio
dia de cavalgada da Vigia de Karam. Não se tem certeza sobre o que aconteceu,
mas um poder destrutivo sem igual fugiu do controle dos magos pesquisadores. A
rainha estava na Vigia com seu filho mais novo quando o pânico e o caos tomaram
conta da cidade. Centenas morreram no primeiro dia, com sangramento pelos
olhos, nariz e boca. O pequeno príncipe Jared faleceu antes do pôr do sol. Os
magos de Lorde Egbert de Karan nada puderam fazer frente a praga avassaladora.
O número de
mortes só se fez aumentar, dia após dia. A igreja culpava ao rei, que permitia
o estudo indiscriminado da magia, que vai contra os ensinamentos milenares dos
deuses do céu. Teobald de Rasíris, que estava em campanha nas fronteiras do
leste, decidiu retornar imediatamente. Chegou duas semanas após a tragédia,
apenas para encontrar morte e desolação. A vigia de Karan estava deserta, os
sobreviventes haviam sido evacuados para Costamar. Magos vinham de todo o reino
para ajudar a conter a peste e impedir que se espalhasse. Levou um mês para que
a doença fosse erradicada, e já haviam relatos de casos na Vigia de Saron,
Vilanorte e até mesmo Pedra das Estrelas. O próprio Rei contraiu a doença, mas
foi medicado a tempo. Sua rainha não teve a mesma sorte: Morreu na cama, duas
semanas antes do antídoto ser descoberto.
O antídoto
foi descoberto, e não pelos magos. Mas sim pelos Astromantes da Ordem do Céu.
Com a resolução do problema pela mão da igreja, o próprio rei foi forçado a
tomar medidas mais religiosas. Dali em diante, qualquer manifestação mágica em
Arcádia seria considerada crime capital, e a pena para o usuário de magia seria
morte na fogueira.
E desde então
a saúde de Teobald de Rasíris foi de mal a pior. Tudo o que Rastler poderia
sentir ao lado do tio era pena. Um homem que teve tudo, mas também perdera
tudo. Será essa a sina de um Rei?
- Rastler,
receio ter de pedir-lhe um último favor. - O velho fitava os jardins, sua voz
chorosa.
- O que
quiser, tio, basta pedir.
- Sabe que
não serei rei por muito tempo. Pretendo entregar a coroa ao final desta semana.
Acho que posso fazer um bom proveito de seu retorno.
- Ricard será
um bom rei. - O que ele está querendo? - E Lucian um ótimo conselheiro,
tenho certeza.
- Não. - O
tom de voz do tio tornou-se firme e obscuro, abandonando toda a fraqueza de instantes
atrás. - Temo pelo reinado de Ricard. Ele precisará de homens em quem possa
confiar para ajudá-lo a governar. E está muito difícil encontrar esses homens.
- O que está
dizendo, senhor? - Rastler não podia acreditar. Estaria o rei suspeitando da fidelidade
de Lucian para com o irmão mais velho? Não perguntaria isso ao Rei, fraco como
este estava. Poderia matá-lo pelo coração.
- Sabe do que
estou falando, querido sobrinho. Com certeza deve ter notado algo diferente em
Lucian desde seu retorno.
Abriu a boca
para falar, mas fechou-a imediatamente. Realmente havia algo errado. Toda
aquela frieza não poderia ser normal.
- Lucian
mudou desde que partiu, Rastler. E receio que eu mesmo seja a causa da loucura
dele. - Parou e respirou fundo. - Oh, Rastler, peço apenas que perdoe este
velho pelos erros cometidos.
- Erros? Mas
do que o senhor está falando? - Pensara que vira de tudo nas terras do leste, e
agora se dava conta de que não poderia estar mais enganado. Um rei
pedindo-me desculpas? Não apenas um rei, mas o Rei de Arcádia. O que
falta agora, um maldito bastardo ser coroado para reinar o continente?
- Sabe muito
bem do que estou falando, por isso falarei sem mais rodeios. O maior erro que
cometi foi o casamento de Lucian com a filha de Lago Mardul.
Um soco no
estômago. Jamais esperara voltar do exílio para ouvir isto da boca do próprio
rei.
- Perdoe-me
por descordar, senhor... - As palavaras vinham com dificuldade. - Tenho certeza
de que Jeren é uma ótima esposa.
- Mas não
para Lucian, não é?
Não. É claro que não, seu velho maldito.
Estaria melhor ao meu lado.
- Julga-me
por tolo. Mas como disse-lhe antes, ainda tenho minha inteligência. Percebi de
imediato o motivo de sua fuga. É uma pena que tenha sido tarde demais.
Velho, que vontade de esfaqueá-lo. A
ferida estava se fechando, e você trata de espetá-la.
O sangue
jorra novamente.
- Pela sua
reação, vejo que eu não poderia estar mais correto. - Tossiu e gemeu de dor. -
E é por isso que peço-lhe perdão. Se eu soubesse de suas intenções, poderia ter
impedido esse mal entendido.
Claro. Pouparia não só a mim desse
sofrimento, mas também Jeren. E talvez não tivese um filho louco. Mas não
havia como olhar para o tio e não sentir pena ao invés de rancor. Afinal, quem
seria Rastler para negar o perdão àquele pobre coitado?
- O que está
feito está feito, tio. Não adianta chorar. - Encarou o velho e, pela primeira
vez na conversa, sentiu-se igual ao tio. - Voltei porque julguei que já estava
na hora de superar isto. Não se preocupe em pedir perdão, jamais culparia o
senhor.
- Obrigado,
Rastler.
- Não por
isso, majestade. - Desejava mais do que tudo mudar de assunto. - Deixou-me
confuso, senhor. Se me permite perguntar, o que exatamente teme para o reinado
de Ricard?
- Não existe
amor entre os meus filhos, essa é a verdade. Você os viu hoje. Sequer se
falaram. Lucian sente inveja de Ricard.
Isso era
verdade. Não havia sequer o menor grau de amizade entre os dois.
- Mesmo
assim, não acho que traição seja algo a ser temido. - Parou e pensou um pouco. –
Além do mais, Lucian não tem forças o suficiente para superar Ricard. A coroa
tem o apoio da igreja. Têm sido assim por séculos.
- Temo que
não por muito tempo. Minha irmã Taliryen comanda a igeja, e seu filho Zemerick
comanda o exército dos templários. – Fez uma breve pausa. – Um exército grande
demais, na minha opinião.
- Zemerick é
um homem santo, segundo os boatos que ouvi. – O que não significa nada, sentiu-se
tentado a dizer. Em seu exílio, Rastler vira e presenciara diversas crenças. Em
sua opinião, todas elas não passavam de uma forma de controle, uma medida para
impor a vontade de poucos sobre os demais. – E, além disso, estão empenhados na
guerra contra o povo da noite.
- Exato.
Empenhados muito além da conta. O exército dos templários triplicou nos últimos
dois anos. Entende o que quero dizer?
- Entendo. O
senhor teme que a igreja possa tentar tomar a coroa. - Puxou na memória um
pouco da história de Arcádia. Desde sua infância havia um assunto nebuloso,
apenas sussurrado. Atreveu-se: - Taliryen pensa que tem direito à coroa. Estou
certo?
- Ela tem. –
Admitiu o tio, triste. – Sempre o teve. Rastler, se na época de minha coroação
eu tivesse sequer imaginado o que essa coroa me reservaria, eu a teria negado.
Fui iludido como um pobre tolo. Por sorte tive homens competentes ao meu lado
para ajudar-me. Seu pai foi um deles.
- O senhor
sempre fez o que era melhor para o reino. - Rastler conhecia parte da história.
O império de Iskarish avançava em sua conquista, aproximando-se das fronteiras
de Arcádia. O imperador, vendo a dificuldade de subjugar os arcadianos e os
homens da floresta de Éramon, convocou uma reunião sob a bandeira da paz, para
negociar.
Mas tudo não
passava de uma emboscada. Tanto o rei de Arcádia quanto o rei da floresta
tiveram suas cabeças cortadas, e o imperador enviou-as de volta, sob a ameaça
de aniquilação.
A então
herdeira de Arcádia, a princesa Taliryen, reuniu todos os vassalos e procurou
uma alternativa pacífica para o conflito, pois Arcádia não tinha poder para se
opor diretamente a Iskarish. Mas nem sua grande sabedoria foi o suficiente para
apaziguar os mais leais súditos de seu pai. Assim, os três filhos mais jovens
do rei partiram para a guerra com todas as espadas e lanças que puderam reunir.
Graças a uma aliança com os homens da floresta, os arcadianos foram capazes de
expulsar as tropas imperiais de suas fronteiras numa série de conflitos que ficou
conhecida com a guerra dos três príncipes.
Quando as
forças arcadianas retornaram para casa, o conselho real apontou Teobald de
Rasíris como o novo rei de Arcádia, ao passo que a princesa Taliryen e suas
propostas de paz eram encaradas como uma afronta à memória do antigo rei. Tais
fatos mergulharam Arcádia numa breve guerra civil, que terminou com a vitória
de Teobald.
No entanto, o
novo rei poupou a irmã. Depois disso, a princesa Taliryen dedicou-se unicamente
aos estudos da fé e à administração da igreja dos herdeiros do céu.
Rastler
sempre se perguntava o que teria acontecido se Taliryen tivesse sido coroada
rainha. Provavelmente Arcadia estaria juramentada ao imperador Caius.
- Mesmo
assim, todo cuidado é pouco. – O rei despertou-o de seus devaneios. – Eu
usurpei o trono de minha irmã, e temo que ela possa não ter se esquecido. Mas a
igreja não me preocupa tanto quanto a questão de Lucian.
Lá vamos nós de novo.
- Rastler,
deixe-me perguntar uma coisa. Confiaria sua vida a Lucian?
- Sim. -
Já não sei mais. - Somos como irmãos. Crescemos juntos e...
- Poupe-me de
seu sentimentalismo. - O rei parecia estar perdendo a paciência. - Pelos
deuses, Rastler, você esteve em campanha com ele. Viu o tamanho de sua tropa?
- Sim,
senhor. As tropas negras são implacáveis.
- Não há como
negar que ele juntou sua própria armada. Todos os seus capitães lhe são
extremamente leais. E aquele garoto Mardul é o pior de todos. Foi a pior
companhia possível para Lucian.
Rastler era
obrigado a concordar. Leonard Mardul era um perdedor de primeira classe. Maldito
arrogante, que não é nada sem o nome de seu pai.
- Não se
esqueça, ainda, de que os Mardul foram conquistados há míseros vinte e dois anos.
Talvez lorde Leonard ainda tenha espranças de ser rei.
- Acha que
ele pode ter influenciado Lucian.
- Tudo é
possível, meu caro sobrinho. Um tolo vê amigos em cada sombra, enquanto um
sábio vê inimigos armados. - Fez uma breve pausa. - É aí que entra o favor que
lhe pedirei.
Seu coração
acelerou. O que o rei pediria? E a mim?
- Será conselheiro
militar e primeiro general de Ricard depois da coroação. Tenho esperança de que
sua amizade com Lucian possa aproximar meus dois filhos. Todos os assuntos de
natureza militar serão discutidos com você, e apenas o rei terá autoridade
sobre a sua. A igreja terá de lhe prestar respeito, assim como a tropa de
Lucian. - Parou por alguns segundos, respirava com dificuldade. - Você lidera
mercenários, então acredito que será uma tarefa fácil, não?
- Senhor,
desculpe a grosseria... - Não sabia o que dizer. - Mas receio que Ricard queira
escolher seus próprios conselheiros.
- E ele
escolheu. Todas a s cartas dele nos últimos meses mencionam você. Sua bravura,
sua habilidade de liderança. Sua paixão pela batalha. E sua lealdade pelo
reino. Ricard o escolheu, dentre todos os outros.
Ainda não
sabia o que dizer. Esperava por uma recompensa do rei. Um punhado de terra e
alguns camponeses para plantar e colher.
Ao invés
disso receberia os exércitos do reino.
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