quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Projeto: A queda de Arcádia - Prólogo

Saudações, aprendizes.

Este post marca o início do projeto A queda de Arcádia, minha série sobre a luta pelo poder no decadente reino de Arcádia.

Contar-lhes mais do que isso seria estragar a história. Portanto, mãos à obra:


PRÓLOGO: A tomada da Ilhota dos Ventos

Fragmento das memórias de sir Jonas Granrios


  Os Senhores do Rio viram quando Lorde Orion deu um soco na mesa, fazendo pequenos soldados de cobre espalharem-se pelo chão do salão. Suava muito através de suas feições redondas e vermelhas. Grossas bolsas negras estavam abaixo de seus olhos, reflexo das várias noites sem dormir
direito.
  Na verdade, estavam todos em claro já há três dias.
  - Acalme-se, tio. - Disse Sir Jonas, enquanto o jovem Darien apressava-se a recolher as peças espalhadas. - Guarde sua raiva para a batalha.
  - Cale-se, Jonas. - O sempre tão severo Lorde Anton o repreendeu. Era uma versão mais velha de Orion: Gordo, vermelho e suarento, com poucos mais do que alguns fios de cabelo branco nas laterais da cabeça. - Se nossos batedores estiverem corretos, não haverá batalha nenhuma. Haverá um massacre. Pensei que saberia a diferença.
  Sir Jonas Granrios calou-se, engolindo o orgulho. Sei a diferença, pai. Muito mais do que pensa. Baixou os olhos e fitou uma das miniaturas no chão. Um pequeno lanceiro de cobre que cabia na palma da mão. Espero não encontrar com um desses tão cedo.
  A última experiência de Sir Jonas contra as Tropas Negras havia sido um desastre. Levara quatrocentos homens para o norte, a fim de dar apoio à Fortaleza de Granlago, mas foi em vão. A fortaleza caiu e foi saqueada. De seus quatrocentos, menos de vinte escaparam com vida da batalha, e menos ainda conseguiram retornar à Ilhota dos Ventos. Até mesmo seu irmão mais novo, Sir Jan, se perdera entre os inimigos, e sua cabeça podia agora estar numa estaca sobre as muralhas da fortaleza. O Príncipe Negro não era famoso por sua piedade para com inimigos derrotados.
  - Não seja tão duro, Anton. - Lorde Orion levou as mãos ao rosto. Suava por baixo da cota de malha. Mas não era calor. Era nervosismo, angústia, medo. - Sir Jonas, por favor, repita nossos números.
  - Como quiser, tio. – Pigarreou, então começou: - Mil homens da Ilhota, sendo quinhentos soldados montados. O restante está dividido entre arqueiros, lanceiros e plebeus armados. Some a isso quinhentos homens de Águas Escuras, que vieram após minha convocação. - Fez uma pausa, e dirigiu o olhar para seu pai: - Três mil guerreiros de meu pai, divididos entre cavalaria leve e pesada. Duas catapultas e três trabucos. Cinco balestras na muralha norte. Ordenei que movessem as da muralha sul para a ala norte. Com isso, até o fim do dia serão oito balestras.
  - E os relatórios dos batedores?
  - Seis mil lanceiros negros partiram de Granlago, acompanhados de três mil gritadores das montanhas. Deverão se unir ao restante das Tropas Negras assim que estiverem ao sul da Mata do Rio. A essa altura serão quase treze mil inimigos.
  - Maldição. - Praguejou Lorde Orion. - Deveria esmurrar a mesa de novo. - Virou-se para Droclau, seu mago conselheiro. - Temos algum mago para a batalha?
  - Poucos e menos ainda, meu senhor. – Mestre Droclau era, talvez, o homem mais velho que Jonas conhecera. Tinha a mesma imagem do velho mestre desde a infância. Calvo, curvado e enrugado, o mago andava apoiando-se num cajado. Uma figura frágil à primeira vista, mas ainda mentalmente capaz, e igualmente habilidoso nas artes arcanas. - Menos de dez. Todos rapazes inexperientes, ainda em treinamento. Arkley e Jasmine estão no sul, e Sir Jonas levou três dos nossos mais experientes magos para Granlago. A essa altura o Príncipe Negro já os deve ter queimado. Se me permite uma opinião, meu senhor, precisamos de reforços. Caso contrário podemos não estar vivos para o próximo amanhecer.
  - Está exagerando, Mestre Droclau. Suas forças atuais compõem mais de quatro mil homens. - Falou Ricardus Tormen, Senhor da Velhatorre e Alto Conselheiro Real, inexpugnável em sua armadura brilhante. - Quatro mil homens atrás dos muros da Ilhota dos ventos valem vinte mil do lado de fora.
  Verdade, refletiu Jonas. Há apenas uma ponte sobre o rio, e qualquer tentativa de entrar no castelo por ela pode ser facilmente repelida. Mas falamos do Príncipe Negro, e seu exército é implacável.
  - O Senhor tem razão, Lorde Ricardus. - Ponderou Lorde Orion. - Mas há um problema. Metade das minhas terras situam-se ao norte do rio, e isso quer dizer rebanhos e plantações que serão perdidos para o inimigo. Há quatro mil soldados neste castelo, e quase o dobro disso em bocas inúteis. Como espera que eu sustente toda esta gente? Espera que eu fique aqui e mate o Príncipe Negro de tédio?
  - Recursos podem ser trazidos de Granrio, Águas Escuras e até da Velhatorre, se precisar.
  - Se me permite, Senhor. – Não vou gostar de dizer isso, mas não há outra alternativa. - Se nos mandar homens, podemos atacar ao invés de sermos atacados. Expulsaremos o Príncipe Negro de nossas terras e retomaremos Granlago. Convoque os guerreiros rúnicos.
  - Não diga bobagens, rapaz. - Repreendeu-o o alto Conselheiro. - Os homens de Velhatorre e os guerreiros rúnicos estão na fronteira sul contendo a rebelião dos magos de Mor Krazt. Sinto informá-los de que Vossa Majestade, o Rei Benfred III, está desapontado com a perda de Granlago para os hereges nortenhos. Lorde Orion, você não pode perder a Ilhota. Você deve resistir, não importa como.
  O silêncio tomou conta do salão. Por um instante, todos apenas encaram-se. Lordes, cavaleiros, senhores menores, escudeiros, guardas, magos e criados; E o primeiro quem ousou a falar foi Sir Jonas:
  - Está louco, Lorde Ricardus? - Seu tio Orion suou mais um pouco. Seu pai Anton também, mas fechou dolorosamente os olhos em reprovação. Os escudeiros estavam boquiabertos, Darien mais do que todos. Os senhores menores tiveram reações diversas: os vassalos de Sir Jonas esboçavam sorrisos. Foda-se, pensou. Fodam-se todos vocês. Até mesmo você, pai, já me censuraste o bastante. Não tenho culpa pelo que aconteceu com Jan, não importa o que você diga. E não tenho medo de enfrentar Ricardus Tormen aqui e agora. Tenho medo de enfrentar o Príncipe Negro em batalha.  - Controle a língua, sir. - O senhor da Velhatorre soava calmo, firme e severo, como sempre, mas com aquele ar de superioridade de quem falava com um criado qualquer. Isso, mais do que tudo, fazia sir Jonas perder a paciência. - Falo com a voz de Benfred III, cavaleiro rúnico, mago e rei, Enviado dos Deuses e Conhecedor da Alta Magia. Ao acusar-me de loucura está ofendendo não só a mim, mas ao Rei e aos Deuses.
  - Então diga, arauto de merda... Como o rei espera que enfrentemos os inimigos dele com nossos números patéticos. - Sir Jonas levou a mão ao cabo de sua espada e soltou-a da bainha. - Talvez lidere a batalha e nos mostre, covarde!
  Lorde Ricardus permaneceu imóvel, mas seus dois guardas pessoais deram um passo a frente, com as mãos nas próprias espadas.
  - Pelos Deuses, Jonas, guarde esta espada. - O pai o repreendeu novamente, mas foi Lorde Orion quem apaziguou o rapaz.
  - Por favor, Jonas, obedeça a seu pai. - Depois se dirigiu ao Alto Conselheiro. - Peço humildemente que o perdoe, Senhor. Ele é jovem e perdeu o irmão recentemente, assim como grandes amigos em Granlago. Assumo a responsabilidade disto.
  Foi o tom de voz do tio que o fez se acalmar. Ele também sofre, refletiu. Seu filho Aidan era escudeiro de Jan e também se perdeu em Granlago. Prendeu novamente a espada à bainha e virou-se para sair.
  Maldito Rei Benfred III, Enviado dos deuses. Da bosta de meu cavalo, isso sim. Nos condenou todos à morte.
  Quando estava há poucos passos da porta, ela se abriu, e a pessoa quem Sir Jonas menos esperava ver ainda vivo entrou por ela:
  - Mas o quê? Jan? – Parou abruptamente, assustando-se ao ver o irmão à sua frente.
  - Irmão, estou de volta. - Não fazia um mês desde Granlago, mas saber que seu irmão caçula estava vivo retirava um peso do coração de Sir Jonas. Logo depois entrou o jovem Aidan Granrios, que correu até o pai.
  Jonas não deixou de notar que o irmão estava bem, a não ser por bandagens sobre o olho direito. Parecia bem alimentado, e muito menos espancado como seria próprio de um prisioneiro do Príncipe Negro. Vestia-se bem: armadura por cima de cota de malha.
  Uma armadura de aço negro.  - Senhores do Rio. - Falou Sir Jan em voz alta. - Tenho a honra de lhes apresentar o Senhor Rastler de Rasíris, primo do Príncipe Negro e vigésimo segundo na linha de sucessão ao Reino de Arcádia.
  Mas que brincadeira é essa? Jonas ficou confuso. Irmão, o que foi que você fez? Tornou-se um dos nossos inimigos?
  O homem que cruzou a porta em nada se parecia com um nobre, e não servia nem para ser chamado de cavaleiro de baixo nascimento. Estava mais para um camponês armado com peças pilhadas de cadáveres. Na casa dos trinta anos, com cabelos castanhos embaraçados que caíam aos ombros. Nem mesmo possui os traços dos Senhores de Rasíris. Sua armadura parecia aço barato, com partes desiguais e desencontradas: apenas uma ombreira, uma greva de cada cor e a cota de malha rasgada em diversos pontos. Duas espadas embainhadas à cintura. Uma era longa, com a guarda avermelhada e um pequeno rubi incrustado no pomo. A outra era um pouco mais curta e levemente curva, com o cabo feito de osso e gravado com padrões místicos estranhos.
  Rastler de Rasíris. Se as coisas dos quais ouvi falar sobre este homem forem em parte verdade, talvez ele seja um inimigo mais temível até do que o Príncipe Negro.   Rastler trazia consigo dois guarda costas: um homem alto e de pele vermelha, com uma hirsuta cabeleira negra e o corpo coberto por tatuagens que formavam padrões estranhos. Não trajava nenhum tipo de armadura, e a espada que trazia era feita de osso, assim como a de Rastler. Era uma forma de trabalho que somente os feiticeiros do povo vermelho conheciam. Escória bárbara, monstro, herege.  O outro não passava de um homem em armas comum, sua presença de certo modo ofuscada pelos seus outros dois companheiros. Trajava uma cota de malha sob armadura leve, e estava armado com espada e escudo.
  Os Senhores do Rio ficaram imóveis. Aquilo pegou a todos de surpresa. Coube ao estranho visitante quebrar o breve silêncio:
  - Saudações, senhores. Creio que Sir Jan exagerou na minha anunciação. Na verdade, não sou senhor de nada. A não ser do meu próprio nariz. - Sorriu. – E também creio que vigésimo segundo na linha de sucessão seja uma honraria patética demais para ser mencionada.
  - Peguem-no! - Lorde Ricardus pareceu acordar de repente, e os dois guardas que o acompanhavam deram um passo à frente, em direção ao recém chegado, já com as espadas na mão.
  E as espadas foram sacadas. Os guardas de Lorde Ricardus; Sir Jan; o homem em armas de Rastler. Vários dos vassalos dos rios, e até mesmo Lorde Anton.
  - Abaixem as armas! - Sir Jan bradou, e dirigiu-se primeiro ao irmão. - Jonas, por favor, ouça o que Rastler veio oferecer.
  - Cale-se, Traidor. - Ricardus Tormen gritava, e seus homens se aproximavam do intruso. - Matem-no!
  - Saia da frente, sir Jan. - Falou Rastler, e o jovem cavaleiro obedeceu, puxando o irmão para fora do caminho também. - Rex.
  E foi aí que tudo ficou louco, seria a primeira coisa que Jonas pensaria ao lembrar-se daquele dia. O homem vermelho colocou-se a frente de seu senhor, para encarar os guardas do Alto Conselheiro. Um movimento rápido bastou, para que o primeiro já estivesse de joelhos, tentando segurar as tripas. A lâmina de osso pingando sangue. O segundo guarda hesitou, o rosto horrorizado sob seu meio elmo, e Rex aproveitou seu momento de dúvida.
  O guarda ficou uma cabeça mais baixo.
  - Está bem, Rex, pode parar. - Rastler tomou a frente, passando pelos corpos no chão. - Lorde Ricardus, venho aqui em nome do rei Teobald de Rasíris oferecer-lhes rendição, e o senhor cospe-me na cara. Não me esquecerei deste insulto.
  - O quê, exatamente, veio nos oferecer? - Perguntou Lorde Orion Granrios, ao que todos os olhares se voltaram para ele. - Nos devolverá Granlago?
  - Não. Granlago não aceitou a paz do Rei, e foi tomada pela força. Pertence a um novo senhor agora, leal à coroa de Arcádia. - Retirou da cintura um pergaminho enrolado, e arremessou-o à Lorde Orion. - Tudo o que direi a seguir consta neste documento, assinado pelo Rei e seus conselheiros. Ilhota dos Ventos, Granrio e Águas Escuras serão poupadas, desde que dobrem o joelho e reconheçam Teobald de Rasíris como seu legítimo rei e soberano. As senhorias destas cidades serão mantidas, assim como seus vassalos. A coroa ainda oferece Margem de Sangue para o jovem cavaleiro Jan Granrios. Desenrole o pergaminho e dê uma olhada no mapa.
  Foi o que o Senhor da Ilhota fez. Estudou o documento por alguns instantes. À medida que avançava na leitura, suas feições mudavam do medo para um quase sorriso.
  - É verdade tudo o que ele diz, tio? - Perguntou Sir Jonas. Seu pai estava boquiaberto.
  - É verdade, sim. - Lorde Orion levantou os olhos do mapa e encarou Rastler. - Nos oferece bons termos, Senhor.
  - Já disse que não sou nenhum senhor. E ainda há mais. A coroa pretende fazer de você, Lorde Orion Granrios, Senhor Supremo do Rio e Protetor das Águas de Arcádia. Isto significa que Granrio, Águas Escuras e Margem de Sangue deverão pagar impostos à Ilhota dos Ventos. E o Senhor responderá apenas à coroa.
  Muitos olhares no salão voltaram-se para Lorde Anton. Afinal, a coroa de Arcádia estava propondo que ele se tornasse vassalo de seu irmão mais novo. O Senhor de Granrio ficou quieto, mas Sir Jonas sabia que ele estava ardendo por dentro. Bem feito, pai. Terá de obedecer ao tio Orion. Aprenda a conviver com isso.  - Mais uma coisa. - O olhar de Rastler voltou-se para Mestre Droclau. - Nenhum tipo de magia é permitida em Arcádia, e a pena para os usuários da mesma é a morte. No entanto, pouparei os magos daqui, desde que partam imediatamente. Qualquer mago que ainda estiver na Ilhota depois do pôr do sol será tratado como criminoso e executado.
  Depois de um breve silêncio, Rastler perguntou:
  - O que me diz, lorde Orion? A decisão é sua.
  - Fala como se eu pudesse recusar.
  - E você pode. Pode até mesmo me prender ou me matar aqui e agora. Mas ambos sabemos que o Príncipe Negro é implacável. A Ilhota seria saqueada, milhares morreriam. E não só guerreiros, vocês todos sabem o que acontece com cidades que perdem batalhas. Gente do povo morrerá, mulheres e crianças inocentes. É uma escolha simples, meu senhor. Dobre o joelho, e receberá terras para que o seu povo plante, crie e prospere. Tente resistir, e ouvirá gritos de agonia até a hora de sua morte. - Fez uma breve pausa. - Lembre-se, um governante bom e sábio é aquele que vive para o seu povo, e nada mais.
  Lorde Orion ponderou por um momento. Todos os olhares sobre ele, que recomeçara a suar.
  - Se me permite perguntar, e quanto à Velhatorre?
  - Será oferecido a Lorde Ricardus que dobre o joelho. Mas tudo a seu tempo. Temo que ele seja mais difícil de lidar.
  - Quem você pensa que é, pivete? - Lorde Ricardus estava visivelmente apavorado. - Homens do Rio, peguem-no! Matem-no! - Mas nenhum dos senhores ousou sequer mostrar o aço de suas espadas. Então coube ao senhor da Velhatorre puxar a espada e avançar.
  Rastler de Rasíris fez sinal para que seus guardas liberassem o caminho.
  O senhor da Velhatorre fechou os olhos por um instante e sussurou palavras que Jonas jamais poderia entender. No instante seguinte, sua espada se acendeu em chamas.
  Rastler apenas sorriu, e desembainhou sua própria espada, a feita de osso. Tolo. Arrogante. Não poderá vencer o alto conselheiro. Ricardus Tormen é um guerreiro rúnico, e o dom é forte nele. Ele o partirá ao meio.
  Mas Rastler parou o golpe com tal facilidade que parecia estar treinando no pátio. De espadas cruzadas, no alto, por um segundo que pareceu a Jonas uma vida inteira. Aquele golpe com a espada em chamas normalmente seria capaz de despedaçar uma arma comum.
  Aquela lâmina de osso tem algo mais.

  Com um movimento rápido, Rastler direcionou a força do golpe para o chão. Então, com a mão esquerda, sacou um punhal que mantinha escondido e o enfiou na garganta do Alto Conselheiro.
  - Disse que não me esqueceria daquele insulto. - Girou o punhal e retirou. O senhor da Velhatorre caiu, sua vida jorrando vermelha pela ferida. As chamas de sua arma se apagaram pela última vez.
  E agora, pensou Sir Jonas. O que acontecerá?  Lorde Orion desembainhou a própria espada e avançou lentamente, mas não atacou. Ajoelhou-se e depositou-a aos pés de Rastler.
  - Eu, Orion Granrios, ofereço minha vida ao serviço do Rei Teobald de Rasíris, hoje e até o fim dos meus dias.
  E o salão explodiu em juramentos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário