terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A Queda de Arcádia - Capítulo 3

Saudações, aprendizes! Neste post, mais um capítulo do projeto A Queda de Arcádia.
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3- No acampamento dos bastardos

Se a disciplina era o grande diferencial das tropas negras de Lucian, a completa falta dela era o que marcava o acampamento dos bastardos sangrentos, à noroeste da Mata do Rio. Um agrupamento disforme de homens, barracas, cavalos e merda. Apenas a vanguarda de Rastler adentrou no acampamento, uma vez que o príncipe negro decidiu instalar-se num castro próximo.
Dentro do pavilhão principal, os mercenários discutiam:
- A porra de um torneio? - Falou um dos capitães, o velho Darl Boca Suja: - Tá dizendo que vai nos pagar pra lutar numa merda dessas?
- Não. - Rastler foi firme, da forma que era necessária ao comandar um grupo como aquele. - Apenas se vencermos o corpo a corpo. Dividirei o prêmio em partes iguais. Serão duzentas peças de ouro para a equipe vencedora.
- E quanto aos prêmios individuais? - Perguntou Henrik, comandante dos arqueiros.
  
- Vinte peças para o melhor justador. Quinze para o melhor espadachim. E também quinze para o melhor arqueiro.
- Então ficarei quinze moedas mais rico. - Disparou o mestre arqueiro. - Quem mais pretende levar?
- Vinte homens, contando comigo. O número máximo permitido para as equipes do corpo a corpo.
- Dezenove, senhor. - Interrompeu Shayra Raardan, guerreira das montanhas. - Dezenove homens, e uma mulher.
- Está certo, Shayra. - Rastler sorriu. - No entanto pensei que lutaria na equipe de seu próprio irmão.
- Meu irmão tem guerreiros competentes ao seu lado, não duvide disso. Mas sou uma guerreira dos bastardos sangrentos.
Bom, Rastler não pôde deixar de pensar. Shayra Raardan entrou na companhia após a batalha de Granlago. Seu irmão gêmeo, Thareen, é o herdeiro da Boca do Dragão e da Senhoria do Vale do Ouro. Com certeza não deixará de faltar ao grande torneio.
- E quem ficará no comando dessa imundície de acampamento? - Novamente era Boca Suja quem indagava.
- Rex. - Foi a escolha óbvia, sem sombra de dúvida. Embora fosse um lutador excepcional, Merax era um homem vermelho. Isso significava que entrava em combate apenas para matar. Essa era a sua natureza, a identidade de seu povo. - Sir Prastan será o segundo em comando.
- Sim, comandante. - Sir Prastan da Torre Sangrenta já era um cavaleiro veterano, o último remanescente de uma antiga linhagem de senhores do leste derrubada há duzentos anos. Segundo ele próprio afirmava, cresceu num acampamento mercenário, e foi seu próprio pai quem o nomeou cavaleiro. Depois de Rex e Darl, era em Prastan que mais confiava.
- Darl, você vêm comigo. - Disse Rastler, apontando para o Boca Suja. - Deixe Igor no comando de seu batalhão. Shayra, Henrik e Ron, vocês têm até o nascer do sol para formar o resto da equipe. Partiremos pela manhã e nos juntaremos ao príncipe negro em marcha.
Os três mercenários assentiram e levantaram-se. Rapidamente deixaram a tenda, animados com a perspectiva da vitória no torneio do rei. Rastler continuou:
- Rex, mantenha o acampamento neste mesmo local, e espere pelo meu retorno. Creio que em pouco mais de um mês estarei de volta. - Voltou-se para sir Prastan: - Como estamos de suprimentos?
- Bem. O saque a Granlago foi lucrativo. Temos o suficiente para mais meio ano.
- Ótimo. - Pensou por um momento. Não havia mais nada a dizer. - Estão dispensados.
O homem vermelho deixou a tenda, acompanhado pelo velho cavaleiro. Restavam agora apenas Rastler e Darl.
- Um torneio. – Recomeçou o Boca Suja, descartando sua garrafa de vinho vazia e pegando uma nova. – Como foi que o príncipe o convenceu a ir nesta palhaçada?
- Não teria sido sábio negar isso a ele. – Verdade seja dita, Lucian já estava lhe dando nos nervos. - Não pretendia ir à capital tão cedo, mas essa viagem pode nos trazer novas oportunidades de trabalho.
- Os arcadianos gostam de uma guerra, isso sim. – Observou Darl, entre um gole e outro. Rastler riu. O velho mudou de assunto: – Ron me deve duas moedas.
- Qual foi a aposta? – Perguntou Rastler, pegando sua própria garrafa e saboreando um pouco de vinho.
- Eu disse a ele que você era um merda de um principezinho. – Riu. – Eu sempre disse. Ele nunca acreditou.
- Mas você perdeu, meu amigo. Não sou príncipe nenhum.
- Mas é primo de um, o que dá no mesmo. Se vinte e duas pessoas morrerem, você senta no trono. – Cuspiu. – Pra mim precisaria de quantas? Talvez cinquenta mil?
- Talvez cem mil. – Riram. Rastler gostava da forma irreverente de Darl. - Responda-me uma coisa, Darl. Seja sincero. O que diria de nossa campanha aqui em Arcádia?
- Diria que esse rei Teobald já nos deve montanhas de ouro. É verdade que tomou os senhores do rio sem dar batalha?
- Sim. Na verdade, comprei-os pelo medo dos números de Lucian, e é claro que eles temiam o mesmo destino de Granlago.
- Três castelos num único dia, sem nenhum soldado morto é algo impressionante pra cacete, até mesmo pra você. - Abriu os braços num gesto amplo. - Vamos ficar ricos.
Mas Rastler pensava em algo mais valioso do que ouro.
- Bem que gostaria que meu tio me presenteasse com alguma senhoria. Algo pequeno, que possamos dar conta. – Vinha pensando nisso havia meses. – Uma pequena fortaleza, uma cidadela, três fazendas e talvez até um moinho. Uns cinquenta camponeses. Já estaria de bom tamanho.
Darl não disse nada. Rastler desejava uma vida sossegada, mas era difícil imaginar o amigo fazendo qualquer coisa que não envolvesse matar, pilhar ou destruir. Era assim que seus mercenários sobreviviam.
- Eu faria de você Mestre de Armas. – Disse, por fim.
E os dois riram e beberam até o nascer do sol.


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